A luta das mulheres operárias, que deu origem à celebração do Dia Internacional da Mulher, ainda se repete 113 anos depois da primeira celebração dessa data, que busca evidenciar os avanços conquistados e o quanto falta para que a discriminação de gênero não reduza oportunidades, salários e opiniões de uma pessoa por ter nascido mulher. Ou que ela se torne o alvo preferido da violência pelo mesmo motivo.
A MERCADO&CONSUMO publicou recentemente um estudo, realizado pelo Fórum Mundial Econômico e divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), sobre o atual ritmo do progresso econômico. De acordo com o documento, os países levarão 131 anos para atingir a paridade salarial entre homens e mulheres.
E há mais do que isso. Questões fundamentais como direitos reprodutivos, equidade na divisão das responsabilidades familiares e domésticas, acesso igualitário a cargos de liderança tanto no setor público quanto no privado, representação efetiva nos órgãos legislativos e executivos e o direito inalienável de não ser vítima de assédio ou violência persistem como problemas urgentes – e sem respostas satisfatórias à vista.
Mas não podemos ignorar que muitos progressos foram feitos por meio da luta diária de mulheres que escolhem diariamente contribuir um pouco mais com toda a sociedade e inspirar quem delas se aproxima.
Vanessa Sandrini, diretora de Varejo do Fasano e cofundadora do Ella’s do Varejo
“Meu maior desafio é perceber que o mundo não é para pessoas diferentes e nós somos todos diferentes. Eu fui educada para ser igual a todo mundo. Isso amputou várias partes de mim, me tornei ambidestra, e sou grata a isso. Mas, se eu cheguei lá amputando partes de mim para ‘caber’. Imagine quem eu seria se usasse o meu melhor a serviço do mundo?
O que me motiva, quando eu ouço as pessoas dizendo ‘onde é o que o mundo vai parar’, é ver que o mundo vai poder voar, porque a gente vai poder deixar as pessoas serem quem elas são.
Educamos gerações – e com todo valor e respeito, entendo que foi necessário – para o volume. E, agora, é sobre indivíduos. Eu luto todos os dias para eu poder ser eu mesma. O que me motiva todos os dias é sobre mim. Parece egoísta, mas não posso melhorar o mundo se eu tiver de deixar de ser quem eu sou.”
Ivone Santana, fundadora e dirigente do Instituto Modo Parités e consultora para lideranças e ambientes mais inclusivos
“Acredito que desafios e problemas são objetos de trabalho, e não impeditivos. Gosto de buscar soluções para questões complexas. Isso sempre me motivou.
No entanto, como mulher, enfrentamos também o desafio de conciliar, o tempo todo, nossa força com a suavidade. Cultivar a gentileza consigo mesma, com nossa condição cíclica, com as pessoas ao nosso redor. Ao mesmo tempo, nos defendermos de uma sociedade muitas vezes misógina e machista, que coloca gigantescos muros preconceituosos e tóxicos em nosso caminho, é uma tarefa permanente. Quando se somam outros aspectos, como ser mulher, negra, com deficiência, LGBTI+, 50+, de baixa renda, os obstáculos são ainda maiores.
O momento em que me sinto mais motivada a seguir em frente é quando, em meu trabalho, vejo nos olhos das pessoas o brilho de quem despertou a consciência sobre um aspecto em que ela pode influenciar positivamente para melhorar a vida de outras pessoas, da sociedade e a sua própria vida, fazendo o virtuoso ciclo do ganha-ganha-ganha. Isso me motiva seguir adiante.”
Cecília Rapassi, sócia-fundadora da Gouvêa Fashion Business
“Sou verdadeiramente apaixonada pelo mercado de moda e tenho como missão pessoal contribuir para a evolução desse setor. Cada passo conquistado, nesse sentido, me anima muito! Conectar e desenvolver pessoas faz meus olhos brilharem.
Apesar de ter enfrentado muitos percalços por trabalhar e morar sozinha desde muito nova, conheci o que realmente era desafiador depois de ser mãe. A mulher carrega instintivamente a responsabilidade e a carga emocional de cuidar da família e conciliar a carreira sem deixar nenhum prato cair. Sem duvida, hoje, é o que mais me desafia e me motiva ao mesmo tempo.”
Fernanda Dalben, diretora de Marketing da Dalben Supermercados
“O que me motiva e me inspira é, todos os dias, de alguma forma, colaborar com o varejo. Levar uma nova visão, inovar. E, sendo mulher, acredito que isso quebra muitas barreiras e estereótipos, porque o varejo sempre foi muito ‘dominado’ por homens. Me inspira inspirar também outras mulheres. De algum modo, ser um exemplo.”
Danielle Garry, diretora de vendas da Puratos e presidente do IFB
“A gente tem um ambiente corporativo ainda muito masculino. A minha principal barreira foi conciliar a vida pessoal com a vida profissional. Cuidar da casa e da maternidade é sempre um grande desafio. Como eu consegui enfrentar? Tendo uma rede de suporte muito bem estruturada. Se eu não tenho uma base muito bem estruturada, não tenho um emocional equilibrado para seguir com o dia a dia do trabalho.
Eu sempre dou esse conselho para as meninas que trabalham comigo: organiza a casa, senão, você não consegue estar aqui de corpo e alma e com qualidade de presença. Eu vejo que, hoje, as mulheres se ajudam muito mais que antes. A gente se vê muito mais como parceiras que como concorrentes. É uma puxando a outra.
O que mais me motiva a superar tudo isso é ter, primeiramente, a minha independência, ser uma peça importante na construção da minha família e inspirar outras pessoas.”
Primeira mulher a presidir o Instituto Foodservice Brasil (IFB), Danielle foi a convidada dessa semana do webcast Bora Varejar, produzido pela MERCADO&CONSUMO. O episódio 45, disponível abaixo, foi apresentado por Aiana Freitas, editora-executiva, e Larissa Féria, editora-chefe, ambas da M&C.
Fonte: Isis Brum/Mercado&Consumo